Empresa não é família

Simon

Ninguém questiona que um ambiente agradável e “humano” é fundamental para o bom desempenho de nossas atividades profissionais. Com a crescente horizontalidade das organizações, isto é, a diminuição de níveis hierárquicos e portanto de chefes, e a necessidade de trabalho em equipe, as relações humanas tendem a ser cada vez mais importantes no mundo do trabalho. A hierarquia rígida está sendo substituída pela cooperação e colaboração – há, com isso – pelo menos a princípio – mais espaço para “calor humano” dentro das organizações. Com todo o avanço que isto proporciona, surge uma armadilha: a confusão entre a esfera das relações privadas e a esfera do relacionamento profissional.

Percebi isso na conversa com um executivo recém-demitido. “Eu não entendi o que aconteceu. O dono da empresa gostava de mim, os funcionários também gostavam de mim. Éramos quase uma família”.

As escalas de valor são distintas

Achar que formamos no trabalho “quase uma família” é o enunciado mais claro da confusão. As necessidades da organização, as avaliações, as metas ou mesmo a necessidade de renovação para oxigenar a empresa estão acima desses supostos vínculos “quase familiares”.

É um erro acreditar que o afeto e as ligações que regem a vida íntima possam valer para a vida profissional. Quando isso acontece, aliás, caímos numa falha ética, na forma de favorecimento a parentes ou amigos. Bem pesadas as coisas, conseguir um emprego ou um cargo em razão de ligações afetivas é algo tão problemático quanto acreditarmos que os vínculos afetivos que criamos com os companheiros de trabalho ou com os nossos chefes é suficiente para garantir o nosso emprego.

A confusão entre essas esferas pode levar também – e frequentemente leva – ao polo contrário: a transformação da vida íntima em uma espécie de continuação da vida profissional. Isso acontece muito na relação com os filhos, por exemplo. O profissional que exige de seu filho que se torne um espelho de seu próprio sucesso, que faz de tudo para o filho seguir os passos que ele mesmo seguiu, está tentando fazer da vida do filho um “plano de carreira”. Ora, filhos não são promovidos, eles devem ser amados. E se pensarmos um pouco, veremos o quanto de atitudes “empresariais” acabam contaminando grande parte de nossas relações afetivas, que para muitos passam a ser vistas na forma de “contratos” com exigências recíprocas.

Como disse no início, um ambiente agradável e “humano” é fundamental para o bom desempenho de nossas atividades profissionais, mas ele não perde nunca suas características próprias. O executivo que me levou a essas reflexões não conseguia mais fazer essa distinção. Após conversarmos, ele foi aos poucos identificando as questões objetivas que o haviam levado à demissão – entre elas, o acomodamento gerado pela sensação de estar em casa.

A empresa não é e não deve ser confundida com família. A empresa não é um círculo de grandes amigos, embora possamos fazer muitas amizades verdadeiras no ambiente de trabalho. A empresa não é a nossa casa. O clima “humanizado” do mundo profissional não deve nunca ser tomado por aquilo que ele não é, pois se fizermos isso, o risco de decepção e mesmo de perda de foco profissional serão muito grandes.

simon.franco@simonfranco.com.br
SIMON FRANCO RECURSOS HUMANOS
Executive Search, Executive Counseling, Sucessão Familiar

Empresa não é família

Simon

Ninguém questiona que um ambiente agradável e “humano” é fundamental para o bom desempenho de nossas atividades profissionais. Com a crescente horizontalidade das organizações, isto é, a diminuição de níveis hierárquicos e portanto de chefes, e a necessidade de trabalho em equipe, as relações humanas tendem a ser cada vez mais importantes no mundo do trabalho. A hierarquia rígida está sendo substituída pela cooperação e colaboração – há, com isso – pelo menos a princípio – mais espaço para “calor humano” dentro das organizações. Com todo o avanço que isto proporciona, surge uma armadilha: a confusão entre a esfera das relações privadas e a esfera do relacionamento profissional.

Percebi isso na conversa com um executivo recém-demitido. “Eu não entendi o que aconteceu. O dono da empresa gostava de mim, os funcionários também gostavam de mim. Éramos quase uma família”.

As escalas de valor são distintas

Achar que formamos no trabalho “quase uma família” é o enunciado mais claro da confusão. As necessidades da organização, as avaliações, as metas ou mesmo a necessidade de renovação para oxigenar a empresa estão acima desses supostos vínculos “quase familiares”.

É um erro acreditar que o afeto e as ligações que regem a vida íntima possam valer para a vida profissional. Quando isso acontece, aliás, caímos numa falha ética, na forma de favorecimento a parentes ou amigos. Bem pesadas as coisas, conseguir um emprego ou um cargo em razão de ligações afetivas é algo tão problemático quanto acreditarmos que os vínculos afetivos que criamos com os companheiros de trabalho ou com os nossos chefes é suficiente para garantir o nosso emprego.

A confusão entre essas esferas pode levar também – e frequentemente leva – ao polo contrário: a transformação da vida íntima em uma espécie de continuação da vida profissional. Isso acontece muito na relação com os filhos, por exemplo. O profissional que exige de seu filho que se torne um espelho de seu próprio sucesso, que faz de tudo para o filho seguir os passos que ele mesmo seguiu, está tentando fazer da vida do filho um “plano de carreira”. Ora, filhos não são promovidos, eles devem ser amados. E se pensarmos um pouco, veremos o quanto de atitudes “empresariais” acabam contaminando grande parte de nossas relações afetivas, que para muitos passam a ser vistas na forma de “contratos” com exigências recíprocas.

Como disse no início, um ambiente agradável e “humano” é fundamental para o bom desempenho de nossas atividades profissionais, mas ele não perde nunca suas características próprias. O executivo que me levou a essas reflexões não conseguia mais fazer essa distinção. Após conversarmos, ele foi aos poucos identificando as questões objetivas que o haviam levado à demissão – entre elas, o acomodamento gerado pela sensação de estar em casa.

A empresa não é e não deve ser confundida com família. A empresa não é um círculo de grandes amigos, embora possamos fazer muitas amizades verdadeiras no ambiente de trabalho. A empresa não é a nossa casa. O clima “humanizado” do mundo profissional não deve nunca ser tomado por aquilo que ele não é, pois se fizermos isso, o risco de decepção e mesmo de perda de foco profissional serão muito grandes.

simon.franco@simonfranco.com.br
SIMON FRANCO RECURSOS HUMANOS
Executive Search, Executive Counseling, Sucessão Familiar